As memórias da família brasileira numa fotopintura na parede

30 de junho de 2016
Mostra resgata tradição de retratistas e revela antigas técnicas que permanecem até hoje

O dia é de romaria em uma cidade qualquer no interior do Nordeste. Uma família posa para uma série de retratos em frente a uma lona pintada com a imagem de Nossa Senhora Aparecida e ao lado de uma estátua de Padre Cícero, o Padim Ciço. O cenário é adornado também por lâmpadas coloridas, plumas e um punhado de outras quinquilharias, como cavalinhos de pau e ursinhos de pelúcia. O fotógrafo, por sua vez, usa um equipamento rústico de madeira pintada e apoiado em um tripé: é uma câmera lambe-lambe. A cena explica o mote da exposição Retrato Popular: do vernáculo ao espetáculo, em cartaz no Sesc Belenzinho, em São Paulo, até 31 de julho, dedicada a resgatar a memória fotográfica brasileira.

Não são apenas as imagens, mas também todo o universo que cercava retratados e retratistas, que está exposto na mostra. No Brasil, e em especial no Nordeste, a fotografia sempre esteve vinculada a dois tempos mágicos: ao da religiosidade e ao da terra. É que por muito tempo, os retratos eram feitos quase que exclusivamente em feiras agrícolas e durante romarias. Essa circunstância acabou por criar uma identidade muito comum a essas imagens que hoje servem como um registro de um tempo que passou – tanto como consequência de avanços socioeconômicos, quanto principalmente por mudanças tecnológicas que acabaram com antigas práticas de fotógrafos –, mas que mesmo assim resiste aqui e ali.

Como há resistência, também há renovação. É o caso, por exemplo, de Mestre Júlio, que tem suas obras expostas na mostra. Tendo trabalhado com fotopintura manualmente durante toda a vida, hoje ele usa o photoshop para fazer intervenções em fotografias originais ou para resgatar rostos de fotografias danificadas. Tradicionalmente, a fotopintura, tão emblemática no imaginário popular, foi usada para criar montagens a partir de uma foto 3×4 reproduzida com pintura, mas hoje o material necessário para fazer o trabalho não existe mais. “Era muito normal, por exemplo, que um vendedor passasse de sítio em sítio recolhendo fotografias que depois ele levaria para o fotopintor que criava o contexto que as pessoas quisessem. Algumas tinham o desejo de serem retratadas com roupas chiques, outras, que não tinham registros de seus casamentos, de noiva e noivo”, comenta Rosely.

Leia o texto completo aqui.


Originalmente publicado em El País, 30 de junho de 2016. Reportagem: André de Oliveira.

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