Deslimites da Memória: Texto e narração Vênus Sunêv

8 de setembro de 2020

Da amizade e parceria entre Cyro Almeida e Mestre Júlio Santos nasceu a série de fotopinturas Deslimites da Memória, em que os artistas reúnem suas linguagens para criar obras que combinam contemporaneidade e tradição.

Neste vídeo a escritora, artista visual e artista gráfica Vênus Sunêv traz sua visão sobre a obra num texto poético escrito e narrado por ela. Vênus é também uma das retratadas nesse projeto.

Deslimites da Memória: Fotopinturas de Cyro Almeida e Mestre Júlio Santos, projeto nº 0019/2017, aprovado no Edital 2017/2018 oriundo da Política de Fomento à Cultura Municipal (Lei nº 11.010/2016).

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Em frente aos quadros retratos
Me vejo parte do elo ancestral,
fazendo lembrar o marco da tecnologia
Tenta ver a identidade por trás da tinta
E a sensação de não haver enigma

Ao guardar a luz que preservei,
ao vagar no escuro
Eu quis filmar o abandono
Mas o mato era mudo

A minha própria lente
Permite que eu feche os meus olhos,
E lembre  a casa dos mais velhos
Aquele quadro na sala de estar memorias de
Mãos de tinta pra unir e abençoar.

Eu Amo tua paisagem triste,
ausente e suja.
Seu terno,
Sua velha umidade, sua força, sua moldura

Histórias pintadas com
tinta pastel que
fotografam cada instante.
Com os olhos

A câmera analógica
da década de 1970
E sua ciência
A gente se acostumou
a enxergar como antigamente
E tivemos saudades de nós,
da nossa cultura
dos nossos avós.

Aprofundo as palavras
como se pintasse,
Uma volta ao passado,
Um olhar de pássaro,
como uma forma pra não
continuar desaparecendo
criamos uma brecha no tempo

Nos nossos cabelos tem uma
cor que não vem nos dicionários.
sabe aquela indefinível cor do tempo
que têm todos os retratos?

E Eu não tinha este rosto de
hoje assim tão calmo
Eu dei voz às minhas mãos e
Quero te servir poesia 3×4
Nua.

Quando vejo nossos
espelhos emoldurados
É uma oferenda aos momentos de luta ,
de brisa, de céu e de busca.

Nossos retratos de parede
Nunca ficam por muito tempo abstratos.
A nossa força contracultura é necessária
Para evoluir o passado

Gosto de lembrar das tardes
de contato com os outros corpos,
gordos, magros
brancos, negros amarelos e pardos
onde performar a geração z
era um eterno diálogo

sentimos o redimensionar do tempo
Tudo aqui é resultado de uma luta
cotidiana, íntima, e  interminável

Cada corpo aqui exposto marca
a sua passagem
Nessa paralela realidade retratados
com delineados paletós, gravatas,
e vestidos estampados
Carregamos características
Do século passado

Eu gosto de pensar que
nos fomos criados
Para um propósito especial
Pintando paredes e levantando bandeiras
me lembrando que
fizemos parte de um tempo em
que havia mais estrelas.

Não deixe sua cabeça esquecer
qualquer memoria
Ao contar a  história sob a
nossa ótica é não permitir que
apaguem o nosso pertencimento
e sim que aumentem nossa auto estima

E é muito protagonismo pra alguém
que o primeiro ato de desaparecimento
foi deixar a barriga da mãe vazia

Somos o ponto de vista
da fusão de dois mundos
Carregamos em nós os
Deslimites da memória.
Ponte, entre a libertação que se instala
E é natural que estejamos no centro da luta.
Antes a gente era pintado de cicatrizes,
agora as câmeras telas e tintas se curvam.

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