Gênero dos mais disseminados na história da arte, o retrato se viu assombrado, no início do século passado, pela invenção da fotografia, e ganhou um expediente novo, a fotopintura. E, como até os estilos mais populares souberam se reciclar, esse método ganha uma visão peculiar na mostra dedicada à produção do cearense Mestre Júlio Santos, composta de 120 obras. Dono do Áureo Studio, de Fortaleza, ele utiliza técnicas digitais, sobretudo o Photoshop, para retocar e mesmo recriar registros, alguns muito afetados pela passagem do tempo. Imagens de 5 por 7 centímetros de uma moça e de um rapaz viram, por exemplo, uma bela foto de casamento. Por trás da qualidade dos trabalhos reside uma ideia ainda mais sofisticada. Ao fazer com que os personagens se tornem outros, completamente diferentes — digamos, ao transformar um casal de classe média em cangaceiros ou árabes —, o fotopintor discute a noção de identidade de cada um. Ou seja, por meio da arte, podemos ser quem quisermos. Numa das paredes da montagem, há uma homenagem a expoentes das câmeras no Brasil, que tiveram seus retratos manipulados pelo artista. Entre eles, Thomaz Farkas, German Lorca, Maureen Bisilliat, Cristiano Mascaro e Claudia Andujar. Pinacoteca do Estado de São Paulo. 04 de agosto a 20 de outubro de 2012.
Originalmente publicado em Veja SP. Resenha por Jonas Lopes.