Júlio Santos: mestre da fotopintura | Olhavê

16 de novembro de 2010

Pesquisar a fotografia vernacular é absolutamente imprescindível para a compreensão da História da Fotografia.

Ao relacionar a produção de amadores, fotógrafos populares (contudo, paradoxalmente à expressão, anônimos) à rede social de produção da imagem fotográfica e de implicações na cultura visual de certo tempo e época, passamos a discutir os aspectos que alicerçam os significados da imagem para uma geração. Entra, nesse ponto, a perspectiva de dado mercado que provém a uma demanda com base em paradigmas visuais, valores sociais, de pertencimento a dada imagem e sua parcela de encantamento.

O lançamento do livro Júlio Santos – Mestre da Fotopintura, publicado pela Editora Tempo d’Imagem é um daqueles livros que só nos damos conta da falta quando o temos nas mãos.

Livros assim são valiosos por sua capacidade literal de guarda, de preservar a importância histórica de profissionais da fotografia que ao longo dos anos encerram suas atividades pela velocidade de outras mídias, do desinteresse geracional deste comércio, entre outros fatores econômicos.

Para quem não conhece, Mestre Júlio, é um dos maiores profissionais da fotopintura brasileira. Sua vocação, sua habilidade técnica, seu vasto conhecimento químico e histórico da fotografia e, sobretudo, seu amor em ampliar e preservar a memória afetiva sobre os retratos através da fotopintura fazem com que este livro seja relevante para a bibliografia da nossa História da Fotografia.

O livro foi produzido por várias mãos, como por exemplo: Rosely Nakagawa, Isabel Santana e Tiago Santana. Com divisão eficiente sobre o tema e bem ilustrado a partir do acervo de Júlio Santos, seguindo o modelo do antes e depois, podemos “entrar” no universo da fotopintura de forma objetiva e clara. Os textos de Rosely nos introduzem ao tema da fotopintura e ao Mestre Júlio.

O didatismo da obra se revela na entrevista com Mestre Júlio e com os últimos capítulos que são dedicados a uma espécie de glossário das técnicas do Estúdio Áureo, assim como de nomes que fazem parte do contexto da fotopintura no Ceará. Outro ponto didático é a apresentação da substituição da técnica artesanal da fotopintura pela ferramenta Photoshop. O livro mostra o passo a passo deste processo na transformação de um retrato em fotopintura.

Livros como esses são significativos, pois tratam de temas caros à difusão de conhecimento sobre história das técnicas fotográficas, da dinâmica do comércio da fotografia popular, do estilo autoral do profissional em questão, do valor simbólico existente entre pedir que a foto renasça de uma outra forma ou mesmo de preservar o que o tempo apagou de um retrato.

Vejo nesta publicação o que devemos almejar mais: esforço em preservar nossa memória, discutir os procedimentos técnicos como ferramenta de análise da nossa produção visual e do sentido contemporâneo que elas discorrem e da qual fazemos parte.

Sigo o historiador Geoffrey Batchen que nos aconselha a olharmos mais para as nossas próprias fotografias e as dos anônimos. São nelas – nas imagens privadas – e nesses fotógrafos espalhados pelo Brasil e no mundo que vamos nos encontrar. Júlio Santos, como ele mesmo fala, acredita que o maior valor da fotopintura é “tatuar” as pessoas nas paredes de uma casa. Júlio Santos e Geoffrey Batchen fazem todo sentido.


Publicado originalmente em Olhavê, 16 de novembro de 2010. Texto e imagens: Georgia Quintas.

Gostou? Compartilhe nas suas redes!

precisa de ajuda?
1
precisa de ajuda?
Olá, precisa de ajuda?